Características
temáticas
-
Identidade perdida e incapacidade de definição
-
Consciência do absurdo da existência
-
Para ele a realidade não é apenas aquilo que se vê
superficialmente
-
Tensão sinceridade / fingimento, consciência
/inconsciência
-
Oposição: sentir / pensar, pensamento / vontade,
esperança 7 desilusão
-
Anti-sensacionismo: intelectualização da emoção
-
Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio,
angústia, cansaço, náuse, desespero
-
Inquietação metafísica
-
Neoplatismo
- Tentativa
de superação da dor, do presente, etc., através da evocação da infância, idade
de ouro, onde a felicidade ficou perdida e onde não existia o doloroso sentir
- refúgio
no sonho, no ocultismo (correspondência entre o visível e o invisível)
- criação
dos heterónimos (“Sê plural como o Universo!”)
- Intuição
de um destino colectivo e épico para o seu País (Mensagem)
- Renovador
de mitos
- a
visão do mundo exterior é fabricada em função do sentimento interior
- Reflexão
sobre o problema do tempo como vivência e como factor de fragmentação do “eu”
- O
presente é o único tempo por ele experimentado (em cada momento se é diferente
do que se foi)
- Tem
uma visão negativa e pessimista da existência; o futuro aumentará a sua
angústia porque é o resultado de sucessivos presentes carregados de
negatividade
Características
estilísticas
-
simplicidade formal; rimas externas e internas;
redondilha maior (gosto pelo popular) dá uma ideia de simplicidade e
espontaneidade
- Grande
sensibilidade musical:
o eufonia
– harmonia de sons
o aliterações,
encavalgamentos, transportes, rimas, ritmo
o verso
geralmente curto (2 a 7 sílabas)
o predomínio
da quadra e da quintilha
-
Adjectivação expressiva
-
Economia de meios:
o Linguagem
sóbria e nobre – equilíbrio clássico
-
Pontuação emotiva
-
Uso frequente de frases nominais
-
Associações inesperadas [por vezes desvios sintácticos
– enálage
-
Comparações, metáforas originais, oxímoros
-
Uso de símbolos
-
Reaproveitamento de símbolos tradicionais (água, rio,
mar...)
Temáticas
ü O
sonho, a intersecção entre o sonho e a realidade (exemplo: Chuva oblíqua – “E
os navios passam por dentro dos troncos das árvores”);
ü A
angustia existencial e a nostalgia da infância (exemplo: Pobre velha música
– “Recordo outro ouvir-te./Não sei se te ouvi/Nessa minha infância/Que me
lembra em ti.” ;
ü Distância
entre o idealizado e o realizado – e a consequente frustração (“Tudo o que faço
ou medito”);
ü A
máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as
emoções ou o que quer comunicar (“Autopsicografia”, verso “O poeta é um
fingidor”);
ü A
intelectualização das emoções e dos sentimentos para a elaboração da arte
(exemplo: Não sei quantas almas tenho – “O que julguei que senti”) ;
ü O
ocultismo e o hermetismo (exemplo: Eros e Psique)
ü O
sebastianismo (a que chamou o seu nacionalismo místico e a que deu forma na
obra Mensagem;
ü Tradução
dos sentimentos nas linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável.
Sinceridade/fingimento
-
Intelectualização do sentimento para exprimir a arte -> poeta fingidor
-
despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria
criação poética
- uso da ironia para pôr tudo em
causa, inclusive a própria sinceridade
- Crítica
de sinceridade ou teoria do fingimento está bem patente na união de contrários
- Mentira:
linguagem ideal da alma, pois usamos as palavras para traduzir emoções e
pensamentos (incomunicável)
Consciência/inconsciência
-
Aumento da autoconsciência humana (despersonalização)
-
tentativa de resposta a várias inquietações que perturbam o poeta
Sentir/pensar
- concilia
o pensar e o sentir
- nega o
que as suas percepções lhe transmitem
- recusa o
mundo sensível, privilegiando o mundo intelegível
- Fragmentação do eu à
interseccionismo entre o material e o sonho; a realidade e a idealidade;
realidades psíquicas e fisicas; interiores e exteriores; sonhos e paisagens
reais; espiritual e material; tempos e espaços; horizontalidade e
verticalidade.
O tempo e a degradação: o
regresso à infância
-
desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem
dos dias
- busca
múltiplas emoções e abraça sonhos impossiveis, mas acaba “sem alegria nem
aspirações”, inquieto, só e ansioso.
- o passado
pesa “como a realidade de nada” e o futuro “como a possibilidade de tudo”. O
tempo é para ele um factor de desagregação na medida em que tudo é breve e
efémero.
- procura
superar a angústia existencial através da evocação da infância e de saudade
desse tempo feliz.
O
tédio, o cansaço de viver
O poeta constata que não é ninguém, ele é nada – o sonho de
ir mais além desaparece. Diz que não sabe nada, não sabe sentir, não sabe
pensar, não sabe querer, ele é um livro que ficou por escrever. Ele é o tédio
de si próprio: está cansado da sua vida, está cansado de si.
Poemas
- “Hora Absurda” -
fragmentação do “eu”
-
interseccionismo
- “Chuva Oblíqua” - fragmentação do “eu”: o sujeito poético
revela-se duplo, na busca de sensações que lhe permitem antever a felicidade
ansiada, mas inacessível.
- interseccionismo
impressionista: recria vivências que se interseccionam com outras que, por sua
vez, dão origem a novas combinações de realidade/idealidade.
- “Autopsicografia” - dialéctica entre o eu do escritor e o eu poético, personalidade fictícia e
criadora.
- criação
de 1 personalidade livre nos seus sentidos e emoções <> sinceridade de
sentimentos
- o poeta
codifica o poema q o receptor descodifica à sua maneira, sem necessidade de
encontrar a pessoa real do escritor
- o acto
poético apenas comunica 1 dor fingida, pois a dor real continua no sujeito que tenta 1
representação.
- os leitores tendem a considerar uma dor que
não é sua, mas que apreendem de acordo com a sua experiência de dor.
- A dor
surge em 3 níveis: a dor real, a dor fingida e a “dor lida”
۰
A arte nasce da realidade
۰
A poesia consiste no fingimento dessa realidade: a dor
fingida ou intelectualizada
۰
A intelectualização é expressa de forma tão artística
que parece mais autêntica que a realidade
۰
Relação do leitor com a obra de arte:
¤
Não sente a dor real (inicial): essa pertence ao poeta
¤
Não sente a dor imaginária: essa pertence ao criador
(poeta)
¤
Não sente a dor que ele (leitor) tem
¤
Sente o que o objecto artístico lhe desperta: uma
quarta dor, a dor lida
۰
A obra é autónoma, quer em relação ao leitor, quer em
relação ao autor (vale por si)
Há uma
intelectualização da emoção: é recebido um estímulo (emoção) – dado pelo
coração – que é intelectualizado – pela razão ; o que surge na criação são as
emoções intelectualizadas. Ou seja, o pensar domina o sentir – a poesia é um
acto intelectual
-
Ela canta pobre ceifeira
– a ceifeira representa os sensacionistas e o seu canto seduz o poeta, que
mesmo assim não consegue deixar de pensar; o poeta quer o impossível: ser
inconsciente mas saber que o é, sentir sem deixar de pensar – o seu ideal de
felicidade; acaba por verificar que só os sensacionistas são felizes, pois
limitam-se a sentir, e tem então um desejo de aniquilamento; musicalidade
produzida pelas aliterações, transporte, metáfora e quadra
-
Não sei se é sonho, se
realidade – exprime um tensão entre o apelo do sonho (caracterizado
pela tranquilidade, sossego, serenidade e afastamento) e o peso da realidade; a
realidade fica sempre aquém do sonho e mesmo no sonho o mal permanece –
frustração; conclui que a felicidade, a cura da dor de viver, de pensar, não se
encontra no exterior mas no interior de cada um.
- Não sei quantas almas tenho – o poeta confessa a sua desfragmentação em múltiplos
“eus”, revelando a sua dor de pensar, pque esta divisão provém do facto de ele
intelectualizar as emoções; a sucessiva mudança leva-o a ser estranho de si
mesmo (não reconhece aqueilo que escreveu); metáfora da vida como um livro: lê
a sua própria história (despersonalização, distancia-se para se ver)
-
Entre o sono e o
sonho - símbolo do rio: divisão, separação, fluír da vida –
percurso da vida; é a imagem permanente da divisão e evidencia a incapacidade
de alterar essa situação (o rio corre sem fim – efemeridade da vida); no
presente, tal como no passado e no futuro (fatalidade), o eu está condenado à
divisão porque condenado ao pensamento (se fosse inconsciente não pensava e por
isso não havia possibilidade de haver divisão); tristeza, angústia por não
poder fazer nada em relação à divisão que há dentro de si; metáfora da casa
como a vida: o seu eu é uma casa com várias divisões – fragmentação
-
Bóiam leves,
desatentos - poema apresenta um conjunto de elementos que sugerem
indefinição e estagnação, estados que provocam o tédio e o cansaço de viver
(“bóiam”, “sono”, “corpo morto”, folhas mortas”, águas paradas”, casa
abandonada”); todos estes elementos apontam para a dor, a incapacidade de
viver, a angústia, o tédio; os seus pensamentos andam como que à deriva, não
têm onde ficar, pois ele é nada; são insignificantes, sem consistência, vagos,
sem conteúdo; impossibilidade do sujeito saír do estado de estagnação em que se
encontra (entre a vida e a não vida); musicalidade: transporte, anáfora
(repetição duma palavra), ritmo (lento, parado – como ele)
-
Aqui na orla da praia,
mudo e contente do mar - sujeito não quer desejar muito mais para
além do que é natural e espontâneo na vida;
tudo aquilo a que o homem se pode agarrar é imperfeito e inútil
(ex:amor); a melhor maneira de passar pela vida é não desejar, não se sentir
atraído por nada (apatia, cansaço total); revela um certo desejo de morte
porque já n quer nada; desejo de comunhão com a natureza
Fernando
Pessoa conta e chora a insatisfação da alma humana. A sua precariedade, a sua
limitação, a dor de pensar, a fome de se ultrapassar, a tristeza, a dor da alma
humana que se sente incapaz de construir e que, comparando as possibilidades
miseráveis com a ambição desmedida, desiste, adormece “num mar de sargaço” e
dissipa a vida no tédio.
Os remédios para esse mal são o
sonho, a evasão pela viagem, o refúgio na infância, a crença num mundo ideal e
oculto, situado no passado, a aventura do Sebastianismo messiânico, o
estoicismo de Ricardo Reis, etc.. Todos estes remédios são tentativas
frustradas porque o mal é a própria natureza humana e o tempo a sua condição
fatal. É uma poesia cheia de desesperos e de entusiasmos febris, de náusea,
tédios e angústias iluminados por uma inteligência lúcida – febre de absoluto e
insatisfação do relativo.
A poesia
está não na dor experimentada ou sentida mas no fingimento dela, apesar do
poeta partir da dor real “a dor que deveras sente”. Não há arte sem imaginação,
sem que o real seja imaginado de maneira a exprimir-se artisticamente e ser
concretizado em arte. Esta concretização opera na memória a dor inicial fazendo
parecer a dor imaginada mais autêntica do que a dor real. Podemos chegar à
conclusão de que há 4 dores: a real (inicial), a que o poeta imagina (finge), a
dor real do leitor e a dor lida, ou seja, intelectualizada, que provém da
interpretação do leitor.
Quadro-Síntese:
Temáticas
|
Estilísticas
|
|
Nível Fónico
|
Nível Morfossintático e semântico
|
|
-
Consciência do absurdo da existência, recusa da
realidade, incapacidade de viver;
-
Oposições pensar/sentir, consciência/inconsciência,
pensamento/vontade, esperança/desilusão
Conduzem
a:
-
tédio; angustia; melancolia; desespero; náusea;
nostalgia de bem perdido (tema da perda);
abdicação, desistência; abulia; dificuldade em distingir o sonho da
realidade;
-
solidão, egotismo, cepticismo, anti-sentimentalismo;
-
inquietação metafísica, dor de pensar, dor de viver
Busca de superação através
de:
-
evocação da infância (enquanto símbolo de uma
felicidade);
-
ilusão no sonho;
-
ocultismo (procura de uma correspondência entre o
visível e o invisível);
-
fingimento( enquanto alienação de si próprio,
processo criativo e máscara) - heteronímia
|
-
musicalidade:
o versificação
regular e tradicional (vertente tradicionalista: predomínio da quadra e da
quintilha e do verso curto(duas a setes sílabas));
o rima,
ritmo, aliteração, onomatopeia
o encavalgamento
|
-
linguagem sóbria e nobre;
- expressividade
dos modos e tempos verbais, com preferência pelo presente do indicativo;
- equilíbrio
clássico;
- sintaxe
simples;
- adjectivação
expressiva
- paralelismos
e repetições
- uso
de símbolos: reaproveitamento de símbolos tradicionais; passagem de uma imagem-símbolo
nacional à reflexão sobre o símbolo;
- imprevisibilidade:
metáforas inesperadas; desarticulação sintática;
- expressividade
da pontuação; interrogações, exclamações, reticências;
- uso
de frases nominais;
- metáforas,
comparações e imagens;
- antíteses;
- paradoxos;
- oxímoros
|
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