16/10/2013

Heterónimos Ficha de Trabalho

Verifique os seus conhecimentos relativamente à criação heteronímica pessoana.

1. Complete os espaços do texto que se segue com as palavras/expressões apresentadas lateralmente.

Despersonalizar-se
Heterónimos
Autónomas
Pensamento
Apesar de
Histeroneurastenia
Fingimento Poético
Psiquiátrico
Heteronímia
Criadoras
Personagens
Adolfo Casais Monteiro
Simular
Emoções
A génese da _____________ foi explicada pelo próprio Fernando Pessoa numa carta a ___________________. A sua “pequena humanidade” foi o resultado de um problema __________, denominado de ______________. Associado a este, surge a tendência excessiva de Pessoa em ___________, ____________, o que se relaciona com o ____________  _____________.
Com a criação dos ______________, Pessoa quis criar nem mais nem menos do que ________________ dramáticas.
Caeiro, Reis e Campos são, então, personagens _______________ cujas _____________, cujos sentimentos e cujo ______________ não são os de Pessoa. ______________ fictícias, são personagens ___________________.

2. Ligue os segmentos frásicos das duas colunas.

Grelha de correcção

Alberto Caeiro
1.


1. Com Alberto Caeiro,
a) serve de exemplo a Alberto Caeiro e a Ricardo Reis, adeptos da áurea mediocritas.
2.


2. Caeiro é o chefe
b) de uma pequena companhia teatral que representa a sua peça no palco da poesia.
3.


3. Para todos eles, incluindo o ortónimo,
c) que é vivido por Alberto Caeiro, ao privilegiar as sensações oferecidas pelos diversos órgãos sensoriais.
4.


4. O  poeta de “O Guardador de Rebanhos”
d) Pessoa quis criar um pólo de referência para as suas outras personagens.
5.


5. Alberto Caeiro recusa o pensamento metafísico,
e) é autodidata, de vivência simples e concreta.
6.


6. A simplicidade da vida rural
f) Caeiro foi o mestre.
7.


7. O puro sensacionismo é aquele
g) aderindo espontaneamente às coisas, tais como são, gozando-as despreocupadamente.
8.


8. O “mestre” vive
h) são versos de Caeiro que refletem a sua antimetafísica, afirmando o primado dos sentidos.
9.


9. “Pensar incomoda como andar à chuva” e “eu não tenho filosofia: tenho sentidos…”
i) afirmando que “pensar é não compreender”.

Grelha de correcção

Ricardo Reis
1.


1. Ricardo Reis, tal como Caeiro,
a) considerando o seu exercício mental em desejar atingir a felicidade de um modo comedido.
2.


2. Apesar de apresentar alguns pontos comuns com o seu mestre,
b) recorre à ode, à mitologia e aos latinismos.
3.


3. O heterónimo de raízes clássicas vai abdicar dos prazeres intensos,
c) são alguns dos conselhos de Ricardo Reis, seguidor do carpe diem horaciano.
4.


4. Evitar as preocupações e gozar moderadamente o momento presente
d) revela-se pagão aceitando a ordem das coisas ao gozar a vida, pensando o menos possível.
5.


5. Adotando uma postura de tranquilidade imperturbável,
e) comprovado pelo recorrente uso do imperativo e do vocativo, de modo a transmitir uma lição de vida.
6.


6. Como um clássico, este heterónimo
f) Ricardo Reis faz um exercício de autodisciplina para poder viver mais tranquilamente.
7.


7. Na obra de Ricardo Reis, perpassa um tom didático
g) tal como preconizava o estoicismo.
8.


8. Os ideais clássicos de equilíbrio e harmonia aplicam-se a Ricardo Reis,
h) designada de ataraxia, o homem poderá alcançar a felicidade, na perspectiva do heterónimo Ricardo Reis.


Grelha de correcção

Álvaro de Campos
1.


1. Álvaro de Campos é adepto do futurismo,
a) porque é o resultado de uma busca reflectida e consciente para atingir a plenitude.
2.


2. Campos é o heterónimo que apresenta um percurso evolutivo,
b) pontos comuns com o seu criador, nomeadamente o tédio existencial e a saudade da infância.
3.


3. Após um período de cansaço e de tédio,
c) quando se dá conta da incapacidade de realização.
4.


4. A fase futurista-sensacionista de Campos concretiza-se
d) Campos entrega-se a um histerismo de sensações.
5.


5. O sensacionismo de Campos é diferente do de Caeiro,
e) pois nega a visão aristotélica da arte, procurando uma nova concepção de beleza.
6.


6. A Ode Triunfal exalta
f) pelo facto de evidenciar três fases distintas.
7.


7. O masoquismo do poeta verifica-se quando ele pretende pôr em prática
g) em composições poéticas de um ritmo torrencial, a traduzir a euforia do “eu”.
8.


8. Walt Whitman foi sem dúvida o seu modelo,
h) o sensacionismo levado ao paroxismo, desejando até ser triturado pelas máquinas.
9.


9. A angústia existencial volta ao poeta
i) no que diz respeito ao excesso violento de sensações.
10.


10. Na fase intimista, Álvaro de Campos apresenta
j) a sociedade industrial e cosmopolita.



Tópicos de correcção
1.
1- heteronímia
2- Adolfo Casais Monteiro
3- psiquiátrico
4- histeroneurastenia
5- despersonalizar-se
6- simular
7- fingimento poético
8- heterónimos
9- personagens
10- criadoras
11- emoções
12- pensamento
13- pensamento
14- autónomas

2.
            1. d)
2. b)
3. f)
4. e)
5. g)
6. a)
7. c)
8. i)
9. h)
3.
           1. d)
           2. f)
           3. g)
           4. c)
           5. h)
           6. b)
           7. e)
           8. a)
4.
           1. e)
           2. f)
           3. d)
           4. g)
           5. a)
           6. j)
           7. h
           8. i)
          9. c)

         10. b)

OS MAIAS - Personagens da crónica de costumes

EÇA DE QUEIRÓS.  OS MAIAS

Personagens da crónica de costumes

Encontramos, no obra, um desfile de personagens, cuja caracterização nos permite classificá-las como personagens-tipo. Elas representam um determinado grupo social e funcionam como forma de criação da crónica de costumes. O que, de facto, interessa, nestas personagens, não são os elementos individualizantes, mas as suas características enquanto retrato de um determinado grupo e contexto social específico.
São de salientar, a este nível, as seguintes personagens:
·         Alencar, que simboliza o Ultra-Romantismo, por oposição ao Realismo e ao Naturalismo, defendidos por João da Ega. Atra­vés desta personagem, é criticada a estagnação intelectual portuguesa, fechada às ideias novas que floresciam no estrangeiro, e que se traduzia numa literatura sentimentalista e alheada da realidade, enraizada em valores tradicionais e obsoletos.
Autor de várias publicações, é um crítico severo da "Ideia Novíssima", isto é, do Naturalismo. Acérrimo defensor de uma democracia humanitária, refugia-se no romantismo político e no ideal de uma república presidida por génios e caracterizada pela fraternização dos povos, ao constatar o descrédito do romantismo literário.
Caracterizam-no a lealdade e a generosidade. Amigo de Pedro da Maia, vai funcionar como elemento referencial do passado de Carlos, enquanto memória da figura paterna.
·         Eusebiozinho representa as vítimas de uma educação tradicional portuguesa, em que imperam os valores morais atrofiantes e cadu­cos e um ensino que não desenvolve a agilidade física e a des­treza intelectual do indivíduo, mas que o aniquila e corrompe espi­ritualmente. Devido à educação que recebe (repare-se que Carlos da Maia é sujeito a um programa educacional completamente oposto) torna-se um indivíduo socialmente apagado e um fraco; incapaz de revelar uma atitude crítica ou analítica, manifesta­-se imaturo do ponto de vista afectivo, cobarde e influenciável. (deixa-se bater pela mulher e convive com prostitutas espanholas, em Sintra; torna-se amigo de Palma Cavalão).
Esta personagem serve ideologicamente os pressupostos naturalistas e a ideologia da obra, opondo-se a Carlos desde a mais tenra idade
·         O Conde de Gouvarinho é uma figura secundária d' Os Maias e inclui-se no painel que caracteriza o espaço social, na obra, ao nível das personagens-tipo.
Representa o Portugal velho e conservador tão criticado por Eça. Politicamente incompetente, o conde de Gouvarinho sim­boliza, nesta obra, a imagem do homem mesquinho e medío­cre, que vive segundo as convenções sociais, apesar de um casamento atribulado. Avesso ao progresso, utiliza um discurso empolgado, mas vazio, e defende acerrimamente a cultura decadente como elemento conquistador e civilizacional dos povos das colónias. O que sobressai, fundamentalmente, desta personagem é a sua completa incapacidade de análise política e a sua inconsequente ausência de visão histórico, que se traduz, sobretudo, na sua futilidade mental e na sua vaidade extrema.
·         Steinbroken é a representação da impressão dos estrangeiros face à "complexidade" nacional. Não emite opiniões e assume-se como um observador um tanto confuso e distante do panorama nacional. A sua distância transparece no seu discurso, aliás, muito pouco extenso, em que predominam as expressões linguís­ticas que se caracterizam pela ausência de um significado con­creto, como é o caso da sua célebre afirmação: “C'est grave...”
·         Sousa Neto é um membro da Administração Pública. Caracteri­zam-no a falta de cultura (lembremo-nos da sua resposta a Ega, quando este, provocante, lhe perguntou se lera Proudhon), a sua incapacidade de análise e a sua vaidade social.
·         Jacob Cohen é o director do Banco Nacional e marido de Raquel, com quem João da Ega tem uma breve relação adúltera. Esta acaba, contudo, com a sua expulsão da residência Cohen, durante um baile de máscaras.
Cohen é o representante da alta finança nacional. É vaidoso e obtuso, por não perceber a relação de Ega com sua mulher, Raquel, nem a hipocrisia com que João da Ega o trata, por esse motivo.
Jacob Cohen simboliza a burguesia que se encontra em lugares de poder, sem, no entanto, possuir a inteligência e a flexibilidade mental para compreender e analisar o mundo que a rodeia. Não apresenta uma consciência forte do estado finan­ceiro do país e é dominado por uma certa inércia.
·         Taveira é o amigo da família Maia; frequenta os serões no Ramalhete e não faz nada. Esta figura pretende retratar, por excelência, a ociosidade da aristocracia nacional.
·         Dâmaso Salcede é a figura mais hedionda da obra. Concentra a vaidade imbecil, o egoísmo, a cobardia, a falta de integri­dade moral. A sua conduta é motivada pelo seu excessivo ego­centrismo e por uma visão deturpada da vida, enraizado em valores sociais imorais, que o fazem oscilar entre comportamen­tos antitéticos, mas sempre repreensíveis (pensemos na sua adu­lação a Carlos e consequente imitação e na traição mesquinha que, posteriormente, pratica ao publicar um artigo contra a reputação de Carlos da Maia n'A Corneta do Diabo). Dâmaso simboliza, pela deformação moral que apresenta, a maior vítima da sociedade portuguesa.
Fisicamente, é gordo, balofo, o que o torna muito pouco atractivo, ainda que, cego pelo seu narcisismo que toca a idiotia, se considere um excelente galã, muito apetecido pelas mulheres, por quem, aliás, não sabe ter consideração nem respeito
·         A Condessa de Gouvarinho e Raquel Cohen simbolizam as mulheres portuguesas, com uma educação romântica e um casamento pouco atraente, que procuram no adultério uma forma de dar algum interesse e emoção às suas vidas
ü  A Condessa de Gouvarinho é uma mulher fútil e vazia de pre­conceitos; apresenta uma paixão obsessiva por Carlos da Maia, com quem terá uma breve relação amorosa. Despreza o marido, não só pela sua mediocridade mas, fundamentalmente, pela sua precária situação económica que, bastas vezes, é coberta pelo pai desta. Simboliza a mulher que não encontra a felicidade no casamento e que procura a emoção e a motivação de viver fora dele.
ü  Raquel Cohen é uma mulher romântica e pouco motivada para a união com Jacob Cohen. Entrega-se à emoção de uma relação adúltera com João da Ega, a quem convence, com queixumes e lamúrias sobre o seu matrimónio infeliz, e que levam Ega, galhardamente, a tomar a sua defesa. Após a expulsão de Ega de sua casa, este vem a tomar consciência de que não passara de uma diversão quási balzaquiana e que Raquel Cohen, além de lhe mentir, amava o marido, do qual sentia violentos ciúmes, razão que, eventualmente, a levava a ter aventuras e a chamar a atenção do marido para a sua existência enquanto mulher.
·         Palma Cavalão e Neves representam o meio jornalístico deca­dente de Lisboa. Palma Cavalão, o director do jornal A Corneta do Diabo, é desonesto e encara o jornalismo como uma forma de ganhar dinheiro, deixando-se, para isso, corromper e subor­nar. Representa o jornalismo barato, escandaloso e sem escrú­pulos. Alcunhado de "Cavalão", ele simboliza a personagem traiçoeira e sem princípios, que tudo faz por dinheiro, sem qualquer preocupação com o seu semelhante. Considera-se o "amante latino", por excelência, das prostitutas espanholas. A associação destas duas facetas negativas torna-o mesquinho e cruel.
Neves, o director do jornal A Tarde, aproveita a sua situa­ção para influenciar politicamente os seus ouvintes/leitores ignorantes. Revela parcialidade, quando Ega lhe pede que publique a carta de Dâmaso em que este pede desculpas a Carlos, por pensar que se tratava de um amigo político com o mesmo nome. Contudo, depois de saber que a carta era, efecti­vamente, da autoria de Dâmaso Salcede e não de Dâmaso Gue­des (o seu amigo de lides políticas), acede a publicar o docu­mento e serve-se mesmo da carta para se vingar do "maganão" que os “entalara no eleição passada”, dando ordens para que a mesma fosse publicada na primeira página.
Conceição Jacinto, Gabriela Lança, Os Maias. Eca de Queirós.
Porto Editora. Colecção Estudar Português


OS MAIAS - O episódio do jantar no Hotel Central (capítulo VI)

OS MAIAS  de Eça de Queirós

O episódio do jantar no Hotel Central  (capítulo VI)



O capítulo onde está inserido o jantar no Hotel Central permite-nos perspectivar o Portugal contemporâneo d’Os Maias. O jantar em honra do banqueiro de prestígio, o Cohen, é um acontecimento eminentemente mundano; é particularmente rico pelo retrato crítico que Eça faz ao contexto político e cultural do seu tempo. Neste retrato assumem particular relevo dois aspectos fundamentais da vida da nação:
  • o cultural (mais propriamente a literatura)
  • o político.

Este jantar serve para propiciar um primeiro e alargado contacto de Carlos com o meio social lisboeta (com Cohen, Alencar, Dâmaso Salcede e outros)

1.Aliteratura:  Romantismo versus Realismo

Ao longo dos diálogos que se vão travando, assiste-se ao confronto entre duas linhas estéticas diferentes.
Þ    Das figuras presentes no jantar está Alencar, que representa o Romantismo, ou seja, a velha corrente literária (Cf. a descrição que nos transmite o narrador na p.159).
Alencar defende acerrimamente aquilo a que ele chama “moralidade”. Verifica-se nele um exagero da “moralização” ultra-romântica e uma consequente fuga ao real circundante.
Þ    Ega assume a defesa do Realismo e identifica-se com as modernas ideias. Afinidade entre Ega e Eça de Queirós. Porém, verifica-se uma distorção das teses naturalistas (Cf. p.164)
Þ    O Realismo é encarado negativamente por Carlos.
Þ    A partir da p.162, surge entre os convivas presentes no jantar o conflito protagonizado por Alencar e Ega, que promovem um episódio de diversão, quer pela linguagem desbragada que usam, quer pela sua atitude indecorosa (troca de ameaças, tanto mais que se encontram num lugar de prestígio social) (Cf. pp.172-175)
Þ    Problemática da crítica literária e do seu cânone específico. Dois vícios fundamentais da crítica literária de conotações académicas:
v  A mera preocupação com questões de natureza formal em detrimento da dimensão temática e verdadeiramente poética da literatura em análise.
v  A pura obsessão com o plágio, interpretando assim uma atitude de tipo policial que nada tinha que ver com valoração estética. (Cf. intervenção de Alencar, p.172)
Þ    A polémica literária toma depois outro rumo: esgotados os argumentos expostos, só resta o ataque pessoal, totalmente arredado da essência das questões abordadas (Cf. p.174). Isto confirma a ideia de que Alencar vale mais como representante de uma mentalidade de certo modo generalizada do que como personagem individualizada e isolada. A discussão entre Ega e Alencar acaba como uma cena de pancada (Cf. p.174)

2.Apolítica de Estado

Þ    É explícita a crítica à política financeira praticada pelos ministérios (Cf. p.165: “A única ocupação...)
Þ    Quem faz a política são os políticos e por isso são os principais causadores do panorama de individualismo, corrupção e má gestão que se vive em Portugal. Na obra, a classe política é caracterizada como sendo um grupo de “medíocres” e “patetas”. Estes são o reflexo de um país desacreditado. Podemos verificar, no discurso empolgado de Ega, essa viva crítica aos políticos da época, por ele genericamente tratados por “colecção grotesca de bestas” (Cf. p.166). Porém, na tentativa de não desprestigiar Cohen – político homenageado no jantar – Ega modera as suas afirmações, admitindo que “também há homens de grande valor!” (Cf. p.166)
Þ    Ega introduz a temática das finanças portuguesas e todos se vão divertindo com as explicações de Cohen acerca de como se faz uma bancarrota (Cf. p.165). Uma vez lançado o tema, este serve de pretexto para diversão geral, como se as finanças públicas fossem assunto de somenos importância. Discute-se afinal entre as personagens, de modo frio e calculista, as desastrosas consequências da gestão ministerial empenhada em levar o país à ruína.
Þ    Cf. pp. 167-168 → O sentimento patriótico não é levado a sério.  O patriotismo, tão defendido pelos antigos heróis nacionais, é desmistificado de forma irónica, tornando inútil o esforço daqueles que, ao longo dos tempos, se bateram pela independência nacional.
Ressalva-se a “paixão patriótica” de Alencar, paradigma do sentimento romântico que parece desaparecer. Apesar das críticas à estética romântica, na obra representada pelo Alencar, esta personagem assume aparentemente a defesa dos valores patrióticos e da coerência dos princípios que defende. (Cf. p.166)
Þ    Dâmaso, porém, contrasta vivamente, representando de forma irónico-crítica a mesquinhez e a cobardia que grassam no Portugal do século XIX. (Cf. p. 169)
Þ    Em vários pontos da obra Os Maias, o processo irónico eciano incide sobre o sentimento generalizado, transmitido por algumas personagens e pelo próprio narrador, de que é necessário importar costumes: tudo o que é português é antigo e velho, tudo o que é estrangeiro é simplesmente “chic”.
Cf. p.158 → fala de Dâmaso → estas palavras de Dâmaso espelham precisamente o sentimento criticado de que Portugal não presta.  Isto sucede, não pela ausência de valores nacionais, que definem a raça, mas porque os portugueses os desvalorizam em favor do que é estrangeiro.
A intervenção de Dâmaso constitui mais um dos momentos divertidos do jantar, onde ele pode dar asas à sua vaidade e futilidade, falando dos pormenores das suas viagens, exibindo uma predilecção pelo estrangeiro.
Þ    Contrariamente à consciência que Eça revela dos problemas do seu tempo, as personagens da sua ficção terminam, de forma inconsequente, o jantar e as discussões, totalmente alheadas, revelando inconsciência relativamente aos problemas e soluções para o país. E, por entre exaltações de espanholadas e “menus” à francesa, o jantar acaba num clima despreocupado de alegria. (Cf. p.171)


Em última análise, o que todo este episódio do jantar do Hotel Central representa é o esforço frustrado de uma certa camada social (por ironia a mais destacada) para assumir um comportamento digno e requintado. Só que (à parte algumas excepções) a realidade dos factos vem ao de cima; que o mesmo é dizer: as limitações culturais e morais não se ocultam à custa de ementas afrancesadas, divãs de marroquim e ramos de camélias.




Temática
Crítica
Literatura


• Oposição entre o Romantismo e o Realismo
• Estagnação da cultura em Portugal



Política
• Independência de Portugal
• Políticos
• Finanças públicas

• Falta de patriotismo
• Incompetência da classe
• Queda financeira do país



Os Maias - A EDUCAÇÃO

A   EDUCAÇÃO



Temos dois modelos de educação em confronto:


Educação à inglesa: CARLOS
Educação tradicional: EUSEBIOZINHO

¨      Ginástica (pp. 54, 58, 66)
¨      Rigor, método, ordem (pp. 56-57, 73-74)
¨      Contacto com a Natureza (pp. 57)
¨      Convivência com as crianças da aldeia (p. 59)
¨      Submissão da vontade ao dever (pp. 61-62, 73-74)
¨      Prioridade dada ao desenvolvimento físico (p. 63)
¨      Aprendizagem das línguas vivas (p. 64)
¨      Religião e moral consideradas secundárias (pp. 66-67, 75)
¨      Rigor nos princípios (pp. 67-68)
¨      Valorização da criatividade e da imaginação (pp. 71-72)

¨      Permanência em casa (pp. 68-69)
¨      Contacto com velhos livros (pp. 68-69)
¨      Mimos e demasiada protecção por parte da mamã e da titi (pp. 73, 76, 78)
¨      Valorização da memorização (pp. 75-76, 78)
¨      Chantagem afectiva para subornar a vontade (p. 76)
¨      Papel (des)educativo da poesia ultra-romântica (p. 76)
¨      Cartilha e latim como bases da educação (p.78)
¨      Religião considerada fundamental
¨      Prioridade dada ao desenvolvimento intelectual




Em relação à educação tradicional, os aspectos negativos tendem a ser mais realçados durante a infância (principalmente através do contraste entre Eusebiozinho e Carlos)
Quanto à educação à inglesa, só o passar do tempo se encarrega de revelar os seus efeitos nocivos, nomeadamente através da história amorosa de Carlos.

Comparativamente, Pedro, Eusebiozinho e Carlos têm um traço comum: todos eles falharam na vida:
Þ    A demasiada protecção feminina durante a infância e os impulsos românticos da adolescência provocaram em Pedro um amolecimento de carácter, que contribuiu para uma vida arrebatada de paixões e que culminou num final ultra-romântico: o suicídio. Pedro falhou no amor, na paixão e na vida.
Þ    O “prodígio”, Eusebiozinho, acaba por não ter o futuro brilhante e digno que aparentemente se previa; antes mostrou a sua moleza de carácter.
Þ    Carlos falhou igualmente na vida e no amor.

Embora, em adultos, Carlos e Eusébio contrastem vivamente na figura (o primeiro é alto, esbelto, elegante, vestindo pelo melhor figurino, e o segundo tem todo um aspecto reles), feito o balanço ao resultado educacional, pouco diferem: os amores de Eusébio, pelos antros de perdição (com espanholas baratas) e os amores incestuosos de Carlos, subvertendo as leis da moral.
Afonso serve de ponto de referência a esta análise, dado que acompanha a educação do filho e do neto. Pedro e Carlos foram sujeitos a dois tipos de educação opostos, cujos progressos foram conduzidos e vigiados por Afonso (e cujas consequências também ele sofreu). Contudo, Afonso atribui a si as culpas do “falhanço” na educação de Pedro e procura “corrigir o erro”, ministrando outro tipo de educação ao neto. A educação de Carlos não só lhe alivia o sofrimento, como o faz reviver, transformando-o num “patriarca feliz” (ver p. 56).

Apesar dos benefícios, a educação de Carlos suscita várias opiniões (Cf. O padre Custódio e o Vilaça, que parece pesar os prós e os contras). Aquela educação mostrou a sua vertente mais fraca: a falta da componente religiosa.

A figura modelar de Afonso jamais é posta em causa, permanecendo à margem de quaisquer acusações. Através da educação, Afonso tudo fez para evitar que a desgraça do filho se repetisse no neto, mas não o conseguiu. Contudo, Afonso não falha: antes morre com dignidade, vítima da incompatibilidade dos valores que representa com a realidade imoral que se lhe sobrepõe: a desgraça de Carlos (Cf. p. 646)



A marca pedagógica que opõe dois conceitos educativos impõe-se neste capítulo, definindo à partida o jogo de forças que estrutura a acção central, tanto ao nível da crónica de costumes em que a educação “à portuguesa” é responsável pela degradação social nos seus valores culturais e morais, como da própria intriga, cujo protagonista uma educação “à inglesa” distingue nesses mesmos valores. Explora ainda uma visão negativa de certa elite social provinciana, ancorada em princípios de religiosidade e preconceito retrógrados. Por outro lado funciona, ao nível de intriga central, como elemento de ironia trágica de um destino ameaçador, pela morte aparente da filha de Pedro Maia e de Maria Monforte, o que nos remete para Édipo, cuja morte fora ordenada por seus pais Jocasta e Laio para evitarem o destino que lhes estava predito e a qual, cumprido o destino, se verificara não ter sido efectuada.


CESÁRIO VERDE

CESÁRIO VERDE


TEMÁTICAS
POEMAS
- Binómio cidade/campo:
·cidade:
       .  símbolo da confusão (Babel), da    infelicidade;
       . doenças, morte, fatalidade, destruição;
       . Babel, velha e corruptora
                 Presente

·campo:
       . símbolo do amor, da felicidade;
       . saúde, fertilidade, actividade útil
                     Passado



“Setentrional”
“Nós”
“A Débil”, “Avé-Marias“ 



“Setentrional”
“Nós”
- A questão social; o poeta e os humildes; crítica social:

    - solidariedade com os humildes, vítimas das injustiças sociais. Aplaude “o protesto franco e salutar em favor do povo” (Conde de Monsarás) (Dic. Lit.). Literatura um instrumento de transformação social:
       -  ataca os alicerces da sociedade burguesa do Constiticionalismo.
       -  C.V., comovido com os suor humilde do povo, esboça “quadros revoltados” (Dic. Lit. 1037) – injustiças, subserviência, não têm medo do trabalho, enfrentam lutas quotidianas com determinação e força, numa atitude corajosa;
      - crítica à imprensa: adulação e suborno.







“Deslumbramentos”

“Contrariedades”
“Avé-Marias”



“Contrariedades”



ASPECTOS RELEVANTES NA POESIA
EXEMPLOS
- Poetização do real; o quotidiano na poesia: poesia analítica – real* analisado nos seus elementos constitutivos; as imagens dadas são de grande nitidez e precisão (formas, cores, sons, cheiros) (V. Ferreira).

“Contrariedades”
“Num Bairro Moderno”
“Avé-Marias”
- Amor da actividade útil, saudável. Respeito pela ciência positiva do seu tempo. Confiança no progresso (Dic. Lit.).

“Nós”
- A imagética feminina:
·mulher bonina(infl. Românticas); panegírico da excelsitude feminina: frágil, terna, ingénua, despretensiosa, desperta no sujeito poético o desejo de a proteger e estimar;
·fria inglesa; “burguesinha do catolicismo” é o produto fútil e indefeso duma educação errada; (Dic. Lit. 785); produto de convenções mundanas, frígida, frívola, calculista, destrutiva, dominadora, sem sentimentos, mulher fatal, o seu erotismo é humilhante, predadora.


“Setentrional”
“A Débil”


“Deslumbramentos”
- Deambulação: como forma de captar a diversidade do real

“Num Bairro Moderno”
“ Avé-Marias”

Observações:
* A objectividade plástica alterna, em vários passos, com a fuga imaginativa – o jogo do “real” e do “irreal”[surrealismo] – por breves momentos, porque logo o poeta tem de regressar à esfera sensorial, à “realidade” comum.

- O amor, neste poeta, é um motivo secundário.

- Preocupação com a morte: poetas doentes, tuberculosos ou já tocados pela preocupação do mal que os minará – Cesário refugia-se na exaltação da vida salubre (Dic. Lit. 673).

- C.V. é um poeta da infância – saudade (Dic. Lit. 1003). Remomoração subjectiva: C.V. com a ilusão de saúde, evoca as valentias e os terrores de “destro e bravo rapazito” [“Em petiz”](Dic. Lit. 467).

A uma concepção romântica da natureza o poeta preferea lição realista e positiva do campo [“Nós”]. O campo não tem um aspecto idílico, paradisíaco, não aparece associado ao bucolismo ou ao devaneio poético, mas ao espaço real, onde se podem observar os camponeses na sua lide diária – dia a dia concreto, autêntico e real →“poeta da Natureza anti-literária, das coisas boas, gostosas, cheirosas, úteis , do labor equilibrado, produtivo.” (Dic. Lit.)





CARACTERÍSTICAS  DA  POESIA
POEMAS
- Poesia prosaica (quer pela temática, o quotidiano, quer pela forma, de onde a emotividade está ausente [embora, por vezes, haja laivos]) (V. Ferreira).

“Num Bairro Moderno”
“Avé-Marias”
- Rigor sintáctico, precisão parnasiana (Dic. Lit.).

Todos
- A poesia de um artista plástico, enamorado do concreto, descreve de modo vivo, exacto, as suas experiências (Dic. Lit.); cromatismo lírico (Dic. Lit);

“Num Bairro Moderno”
“Avé-Marias”
- “Objectividade” antilírica (que não impede, no entanto, a expressão, embora discreta, de ideias e sentimentos que definem o homemsituado)(Dic. Lit.).
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- Há também uma imaginação transfiguradora

“Num Bairro Moderno”
“Avé-Marias”


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“Num Bairro Moderno”; “Avé-Marias”
- Verso decassilábico (10) ou alexandrino (12), sugerindo a imponência e superioridade, nobreza e altivez, grandiosidade solenidade (V. Ferreira).
Todos


Observações:
- Prosaico: que é em prosa ou da natureza da prosa; que é material ou destituído de poesia.

- Prosaísmo: prosificação do discurso poético: objectividade anti-lírica.

- Fino humor, hábil uso do adjectivo (Dic. Lit). – Tom coloquial (Dic. Lit.)


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