E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Foi sempre em verso humilde, celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.
5
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda.
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no Universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
6
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena cristandade,
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da vossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Pera do mundo a Deus dar parte grande;
Camões, Os Lusíadas
1. Localize as estâncias acima transcritas na estrutura interna de Os Lusíadas.
2. Aponte as razões que teriam levado Camões a invocar as Tágides.
3. Refira os pedidos formulados e o tom utilizado nesses pedidos.
4. Nestas duas estâncias existe uma distinção entre a lírica e a épica. Cite as expressões que caracterizam cada um dos estilos.
5. Explique o sentido das expressões:
5.1. “Mas de tuba canora e belicosa
Que o peito acende e a cor ao gesto muda.” (5, vv. 3, 4)
5.2. “Que se espalhe e se cante no Universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.” (5, vv. 7, 8)
6. Faça um breve comentário formal à estância 5.