20/02/2011

A descrição – Ficha de trabalho

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O Búzio

Quando eu era pequena, passava às vezes pela praia um velho louco e vagabundo a quem chamavam o Búzio.
O Búzio era como um monumento manuelino: tudo nele lembrava coisas marítimas. A sua barba branca e ondulada era igual a uma onda de espuma. As grossas veias azuis das suas pernas eram iguais a cabos de navio. O seu corpo parecia um mastro e o seu andar era baloiçado como o andar dum marinheiro ou dum barco. Os seus olhos, como o próprio mar, ora eram azuis, ora cinzentos, ora verdes, e às vezes mesmo os vi roxos. E trazia sempre na mão direita duas conchas. Eram daquelas conchas brancas e grossas com círculos acastanhados, semi-redondas e semitriangulares, que têm no vértice da parte triangular um buraco.
O Búzio passava um fio através dos buracos, atando assim as duas conchas uma à outra, de maneira a formar com elas umas castanholas. E era com essas castanholas que ele marcava o ritmo dos seus longos discursos cadenciados, solitários e misteriosos como poemas.
O Búzio aparecia ao longe. Via-se crescer dos confins dos areais e das estradas. Primeiro julgava-se que fosse uma árvore ou um penedo distante. Mas quando se aproximava via-se que era o Búzio. Na mão esquerda trazia um grande pau que lhe servia de bordão e era seu apoio nas longas caminhadas e sua defesa contra os cães raivosos das quintas. A este pau estava atado um saco de pano, dentro do qual ele guardava os bocados do pão que lhe davam e os tostões. O saco era de chita remendada e tão desbotada que quase se tornara branca.
O Búzio chegava de dia, rodeado de luz e de vento, e dois passos à sua frente vinha o seu cão, que era velho, esbranquiçado e sujo, com o pêlo grosso, encaracolado e comprido e o focinho preto. E pelas ruas fora vinha o Búzio com o sol na cara e as sombras trémulas das folhas dos plátanos nas mãos. Parava em frente duma porta e entoava a sua longa melopeia ritmada pelo tocar das suas castanholas de conchas. Abria-se a porta e aparecia uma criada de avental branco que lhe estendia um pedaço de pão e dizia:
- Vai-te embora, Búzio.
E o Búzio, demoradamente, desprendia o saco do seu bordão, desatava os cordões, abria o saco e guardava o pão. Depois de novo seguia.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Homero
in Contos Exemplares,

Lê o texto com atenção e responde com frases completas.

1. Retira do primeiro parágrafo os dois adjectivos que caracterizam, de forma global, esta personagem.

2. Esta personagem era….
a) um animal marinho
b) uma concha
c) um homem.
d) um menino.

3. “ E pelas ruas fora vinha o Búzio…” (l.24)
a) Como ocupava ele o seu tempo?
b) Após a leitura atenta que fizeste do texto, traça o seu retrato psicológico.

4. Neste texto predomina….
a) o diálogo
b) a descrição
c) a narração
d) o monólogo.

4.1. Justifica a tua opção.

II
Produção escrita

Tal como o Búzio, também tu deves conhecer pessoas, animais, cantores, actores, bandas de música, etc.., de quem gostas. Vais escolher uma personagem e elaborar um pequeno texto descritivo, do género que acabaste de ler, utilizando adjectivos, verbos expressivos, recursos der estilo, nomes e advérbios, de modo a que alguém tenha prazer ao ouvir / ler a tua composição.

Proposta de resolução :

1. “ louco” e “ vagabundo”.
2. Um homem.
3. a) Ele ocupava o seu tempo a cantar e a pedir esmola.
    b) Era pobre, solitário, calmo, paciente e conformado.

4. a descrição.
4.1. Por empregar o pretérito perfeito do indicativo, nomes, adjectivos e planos de descrição ( desde o mais longe até ao mais perto).

Níveis de língua

 Pode-se considerar que os níveis de língua são distintos entre si e distribuem-se por 5 categorias:


1 -O nível corrente obedece às regras usuais da língua, sendo classificado como nível médio e caracteriza-se por:
- vocabulário reduzido;
- sintaxe simplificada;
- expressões pitorescas;
- uso frequente de interjeições;


2 -O nível popular distingue um grupo de falantes com pouca ou nenhuma escolaridade, sendo classificado como nível baixo e caracteriza-se por:
- vocabulário muito escasso e concreto;
- sintaxe descuidada;
- frases inacabadas;
- (...)


3 -O nível familiar é utilizado no relacionamento íntimo, sendo, também, classificado como nível baixo e caracteriza-se por:
- vocabulário corrente, afectivo e pouco abstracto;
- sintaxe simplificada, directa;
- frases curtas, inacabadas;
- interjeições, apartes frequentes, vocativos...;
- frases de tipo exclamativo e/ou uinterrogativo;
- expressões sugestivas;

- explicitação da intimidade;
- (..)


4- A gíria é uma variedade linguística própria de certos grupos sócio-profissionais.
É uma forma exagerada do uso familiar confinado a certos meios sociais.

5-O calão, ou jargão é uma outra versão da gíria, respeita os usos correntes da morfologia e da sintaxe, mas apresenta um vocabulário muito original acessível
só a alguns o que torna o discurso incompreensível para a maioria.

6-As linguagens técnicas e científicas costumam incluir-se no calão, em pé de igualdade com o nível utilizado por marginais.

19/02/2011

MODOS E TEMPOS VERBAIS – conjugação simples

 O MODO INDICATIVO é o modo da realidade, das certezas, em relação ao presente, passado e futuro.
 
O Presente do Indicativo refere factos actuais:
Ex. Faço; ponho; dou;

O Pretérito Imperfeito pode traduzir uma acção que durava ou que era habitual; (usa mentalmente a expressão
antigamente eu...” para colocar o verbo nesse tempo)
Ex. Fazia; punha; dava;

O Pretérito Perfeito traduz uma acção pontual passada; (usa mentalmente a expressão “ontem eu...”, e não esqueças de confirmar se a terminação da 2ª pessoa do singular é –ste – repara no exemplo...)
Ex. Fiz/ fizeste; pus /puseste; dei /deste;

O Pretérito mais-que-perfeito só se usa para traduzir uma acção anterior a outra, também passada e o tempo simples pertence a um nível de língua cuidado. ( a sua terminação é sempre em – ra;
Ex. fizera; pusera; dera;

O Futuro Simples usa-se para exprimir uma acção posterior ao momento da fala ou da escrita, muitas vezes é substituído pelo Presente (a sua terminação é sempre em – rão);
Ex. farão; porão; darão;

O MODO CONJUNTIVO exprime, não a realidade, mas a possibilidade, o desejo ou a dúvida e normalmente integra uma oração subordinada.

Para colocares o verbo no Presente do Conjuntivo, usa mentalmente a expressão “queres que eu hoje...” e colocarás o verbo nesse tempo)
Ex. faça; ponha; dê;

O Pretérito Imperfeito do Conjuntivo escreve-se sempre com ss (e encontra-lo se mentalmente usares a expressão
“ se eu ontem...”)
Ex. fizesse; pusesse; desse...

O Futuro do Conjuntivo coloca a acção como muito provável, ou com valor condicional. (Se mentalmente usares a expressão “Quando eu...” transporás o verbo para esse tempo)
Ex. fizer; puser; der.

O MODO IMPERATIVO é usado para formular um pedido ou dar uma ordem.
Só possui duas pessoas verbais (tu / vós ) e vai buscar ao Presente do Conjuntivo as pessoas verbais que não possui ( Faça! Façamos! Façam!)
Ex. Faz!; Põe! ; Dá!

O MODO CONDICIONAL é usado para traduzir a possibilidade de realização de uma acção sob condição, concretizada ou não. (Reconhece-lo facilmente pela terminação em – ria)
Ex. faria; poria; diria;

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