16/11/2009

SÍNTESE DE FREI LUÍS DE SOUSA- Acto I


Em frei Luís de Sousa há uma progressão dramática de eventos, que propaga um sofrimento cada vez mais intenso, até atingir o clímax; e cujo desfecho é a materialização concreta dos receios mais íntimos de Madalena: o regresso de D. João de Portugal, cujas consequências são a anulação do seu segundo casamento e a ilegitimidade,idade de sua filha Maria, o que inevitavelmente conduz ao extermínio da família.

Acto I

A acção tem lugar no palácio de Manuel de Sousa Coutinho, onde predomina « o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete»; ao fim da tarde.

Cena I _ Reflexão de Madalena a propósito de uns versos do episódio de Inês de Castro d `Os Lusíadas, que lhe despertam os seus próprios medos e «terrores» devido à semelhança que vislumbra entre o amor «ledo e cego» de D. Inês  por D. Pedro e o seu próprio amor por Manuel Sousa Coutinho:

Cena II- Diálogo entre Madalena e Telmo, a partir do qual são daos a conhecer os antecedentes da acção:
- Telmo foi o «aio fiel» de D. João de Portugal.
- D. João de Portugal, então casado com Madalena, desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir;
- Madalena, viúva e órfã, com apenas dezasete anos, encontrou em Telmo o «carinho e protecção»que necessitava, dai a cumplicidade existente entre ambos;
- durante sete anos, Madalena empreendeu todos os esforços e diligencias ao seu alcance, para encontrar D. João de Portugal;
- depois desta vã busca incessante, e apesar da desaprovação de Telmo fundada na crença de que o amo ainda estria vivo, Madalena casou-se com Manuel de Sousa Coutinho por quem fatalmente se apaixonara, na primeira vez que o vira.
-há 14 anos que Madalena se encontra casada com o segundo marido de quem teve uma filha, Maria de Noronha, no momento, com 13 anos;

Ainda nesta cena, Madalena pede ao seu «bom Telmo» que não alimente as fantasias de sua filha no que concerne à sua crença no mito de D. Sebastião, não só porque o estado de saúde de Maria é preocupante e frágil; mas também, e sobretudo, pelas implicações nefastas  e desastrosas de tal quimera - a ser verdade - teria na sua vida.

Cena III - Maria entra em cena e evoca a crença sebastianista, a sua e a do povo, segundo a qual D. Sebastião voltaria numa manhã de nevoeiro cerrado, para salvar o reino do domínio filipino espanhol, restituindo a independência e orgulho da nação. Madalena exprime a sua inquietação e desagrado perante este assunto, pois a probabilidade de regresso de D. Sebastião estava intrinsecamente ligada ao aparecimento do seu primeiro marido.

Cena IV- Diálogo entre Maria e Madalena do qual se apreende:

  • o amor existente entre mãe e filha;
  • a forte intuição de Maria que a leva a aperceber-se que a inquietação dos pais em relação a si própria não advém apenas do seu estado de saúde;
  • o caracter profético do sonho de Maria que a «faz ver cousas»;
  • a curiosidade de Maria relativamente ao retrato do pai vestido de cavaleiro de Malta. 
Cena V- Jorge chega com notícias de Lisboa, anunciado que os governadores espanhóis, devido à peste na capital, decidiram alojar-se em Almada, mais propriamente no palácio de Madalena e de Manuel de Sousa Coutinho. Entretanto Maria ouve o pai chegar, apesar de este se encontrar a alguma distância do palácio; a audição apurada é já um sintoma da sua doença, a tuberculose.

Cena VI- Miranda, criado da casa, comunica a chegada de Manuel de Sousa Coutinho.

Cena VII- É noite fechada. Manuel de Sousa Coutinho entra em cena alvoraçado, dando ordens aos criados que o acompanham e transmitindo à família a sua intenção de se mudarem para o palácio que fora de D. João, decisão esta que deixa Madalena transtornada.

Cena VIII- Manuel procura convencer a esposa de que a única saída que têm, no momento, é irem viver para o palácio de D. João. Madalena aterrorizada com esta ideia, tenta dissuadir o marido, pois acredita que tal situação poderá separar irremediavelmente a família. No entanto, Manuel não se deixa impressionar com estas «vãs quimeras de crianças» e mantém a sua decisão.

Cena IX-Telmo dá conhecimento a Manuel de Sousa Coutinho da chegada antecipada dos governadores.

Cena X - Manuel de Sousa Coutinho pede a Jorge, seu irmão, para partir juntamente com  família e levar todos os haveres que puderem transportar, que ele irá depois ter com eles .

Cena XI - Monólogo de Manuel de Sousa Coutinho em que este evoca a morte de seu pai que caíra « sobre  a sua própria espada» e considera «tirana» a afronta dos governadores, pelo que decide atear fogo ao próprio palácio, para assim impedir que os intrusos ali se instalarem .

Cena XII - Consumação do incêndio. Madalena, Maria, Jorge, Telmo e demais criados acodem. O retrato de Manuel de Sousa Coutinho é consumido pelas chamas perante a aflição impotente de Madalena que em vão o procura salvar.

FREI LUÍS DE SOUSA DE ALMEIDA GARRET - ESTRUTURA


    Frei Luís de Sousa obedece, logicamente, à estrutura característica do texto dramático. Como tal, divide-se em actos e cenas e é constituído pela exposição, conflito e desenlace. 


Estrutura externa 

Frei Luis de Sousa é composto por três actos: o primeiro e o terceiro com doze e o segundo com quinze cenas. Constata-se, portanto, que a peça possui uma organização tripartida regular e harmoniosa.

Estrutura Interna



  • Exposição - Acto I, Cenas I a IV
- Apresentação (através das falas das personagens) dos antecedentes da acção que explicam as circunstâncias actuais), das personagens e das relações existentes entre elas.

  • Conflito - Acto I, Cenas V a XII; Acto II; Acto III, Cenas I a IX
- Desenrolar gradual dos acontecimentos, com momentos de tensão e expectativa- desde o conhecimento de que os governadores espanhóis escolheram para o palácio de de Manuel de Sousa Coutinho para se instalarem até ao reconhecimento do Romeiro (clímax)- que despoletaram uma série de peripécias. 

  • Desenlace- Acto III, Cenas X a XII
- Desfecho motivado pelos acontecimentos anteriores- consumação da tragédia familiar com a morte de Maria e a separação forçada de seus pais, que morrem um para o outro bem como para o mundo . 

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