16/10/2013

Os Maias - A EDUCAÇÃO

A   EDUCAÇÃO



Temos dois modelos de educação em confronto:


Educação à inglesa: CARLOS
Educação tradicional: EUSEBIOZINHO

¨      Ginástica (pp. 54, 58, 66)
¨      Rigor, método, ordem (pp. 56-57, 73-74)
¨      Contacto com a Natureza (pp. 57)
¨      Convivência com as crianças da aldeia (p. 59)
¨      Submissão da vontade ao dever (pp. 61-62, 73-74)
¨      Prioridade dada ao desenvolvimento físico (p. 63)
¨      Aprendizagem das línguas vivas (p. 64)
¨      Religião e moral consideradas secundárias (pp. 66-67, 75)
¨      Rigor nos princípios (pp. 67-68)
¨      Valorização da criatividade e da imaginação (pp. 71-72)

¨      Permanência em casa (pp. 68-69)
¨      Contacto com velhos livros (pp. 68-69)
¨      Mimos e demasiada protecção por parte da mamã e da titi (pp. 73, 76, 78)
¨      Valorização da memorização (pp. 75-76, 78)
¨      Chantagem afectiva para subornar a vontade (p. 76)
¨      Papel (des)educativo da poesia ultra-romântica (p. 76)
¨      Cartilha e latim como bases da educação (p.78)
¨      Religião considerada fundamental
¨      Prioridade dada ao desenvolvimento intelectual




Em relação à educação tradicional, os aspectos negativos tendem a ser mais realçados durante a infância (principalmente através do contraste entre Eusebiozinho e Carlos)
Quanto à educação à inglesa, só o passar do tempo se encarrega de revelar os seus efeitos nocivos, nomeadamente através da história amorosa de Carlos.

Comparativamente, Pedro, Eusebiozinho e Carlos têm um traço comum: todos eles falharam na vida:
Þ    A demasiada protecção feminina durante a infância e os impulsos românticos da adolescência provocaram em Pedro um amolecimento de carácter, que contribuiu para uma vida arrebatada de paixões e que culminou num final ultra-romântico: o suicídio. Pedro falhou no amor, na paixão e na vida.
Þ    O “prodígio”, Eusebiozinho, acaba por não ter o futuro brilhante e digno que aparentemente se previa; antes mostrou a sua moleza de carácter.
Þ    Carlos falhou igualmente na vida e no amor.

Embora, em adultos, Carlos e Eusébio contrastem vivamente na figura (o primeiro é alto, esbelto, elegante, vestindo pelo melhor figurino, e o segundo tem todo um aspecto reles), feito o balanço ao resultado educacional, pouco diferem: os amores de Eusébio, pelos antros de perdição (com espanholas baratas) e os amores incestuosos de Carlos, subvertendo as leis da moral.
Afonso serve de ponto de referência a esta análise, dado que acompanha a educação do filho e do neto. Pedro e Carlos foram sujeitos a dois tipos de educação opostos, cujos progressos foram conduzidos e vigiados por Afonso (e cujas consequências também ele sofreu). Contudo, Afonso atribui a si as culpas do “falhanço” na educação de Pedro e procura “corrigir o erro”, ministrando outro tipo de educação ao neto. A educação de Carlos não só lhe alivia o sofrimento, como o faz reviver, transformando-o num “patriarca feliz” (ver p. 56).

Apesar dos benefícios, a educação de Carlos suscita várias opiniões (Cf. O padre Custódio e o Vilaça, que parece pesar os prós e os contras). Aquela educação mostrou a sua vertente mais fraca: a falta da componente religiosa.

A figura modelar de Afonso jamais é posta em causa, permanecendo à margem de quaisquer acusações. Através da educação, Afonso tudo fez para evitar que a desgraça do filho se repetisse no neto, mas não o conseguiu. Contudo, Afonso não falha: antes morre com dignidade, vítima da incompatibilidade dos valores que representa com a realidade imoral que se lhe sobrepõe: a desgraça de Carlos (Cf. p. 646)



A marca pedagógica que opõe dois conceitos educativos impõe-se neste capítulo, definindo à partida o jogo de forças que estrutura a acção central, tanto ao nível da crónica de costumes em que a educação “à portuguesa” é responsável pela degradação social nos seus valores culturais e morais, como da própria intriga, cujo protagonista uma educação “à inglesa” distingue nesses mesmos valores. Explora ainda uma visão negativa de certa elite social provinciana, ancorada em princípios de religiosidade e preconceito retrógrados. Por outro lado funciona, ao nível de intriga central, como elemento de ironia trágica de um destino ameaçador, pela morte aparente da filha de Pedro Maia e de Maria Monforte, o que nos remete para Édipo, cuja morte fora ordenada por seus pais Jocasta e Laio para evitarem o destino que lhes estava predito e a qual, cumprido o destino, se verificara não ter sido efectuada.


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