A EDUCAÇÃO
Temos dois modelos de educação em confronto:
Educação à inglesa: CARLOS
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Educação tradicional: EUSEBIOZINHO
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¨ Ginástica (pp. 54, 58, 66)
¨ Rigor, método, ordem (pp.
56-57, 73-74)
¨ Contacto com a Natureza
(pp. 57)
¨ Convivência com as
crianças da aldeia (p. 59)
¨ Submissão da vontade ao
dever (pp. 61-62, 73-74)
¨ Prioridade dada ao
desenvolvimento físico (p. 63)
¨ Aprendizagem das línguas
vivas (p. 64)
¨ Religião e moral
consideradas secundárias (pp. 66-67, 75)
¨ Rigor nos princípios (pp.
67-68)
¨ Valorização da
criatividade e da imaginação (pp. 71-72)
|
¨ Permanência em casa (pp.
68-69)
¨ Contacto com velhos livros
(pp. 68-69)
¨ Mimos e demasiada
protecção por parte da mamã e da titi (pp. 73, 76, 78)
¨ Valorização da memorização
(pp. 75-76, 78)
¨ Chantagem afectiva para
subornar a vontade (p. 76)
¨ Papel (des)educativo da
poesia ultra-romântica (p. 76)
¨ Cartilha e latim como
bases da educação (p.78)
¨ Religião considerada
fundamental
¨ Prioridade dada ao
desenvolvimento intelectual
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Em relação à educação tradicional, os aspectos negativos
tendem a ser mais realçados durante a infância (principalmente através do
contraste entre Eusebiozinho e Carlos)
Quanto à educação à inglesa, só o passar do tempo se
encarrega de revelar os seus efeitos nocivos, nomeadamente através da história
amorosa de Carlos.
Comparativamente, Pedro, Eusebiozinho e Carlos têm um traço
comum: todos eles falharam na vida:
Þ A demasiada protecção feminina durante a
infância e os impulsos românticos da adolescência provocaram em Pedro um
amolecimento de carácter, que contribuiu para uma vida arrebatada de paixões e
que culminou num final ultra-romântico: o suicídio. Pedro falhou no amor, na
paixão e na vida.
Þ O “prodígio”, Eusebiozinho, acaba por
não ter o futuro brilhante e digno que aparentemente se previa; antes mostrou a
sua moleza de carácter.
Þ Carlos falhou igualmente na vida e no
amor.
Embora, em adultos, Carlos e Eusébio contrastem vivamente na
figura (o primeiro é alto, esbelto, elegante, vestindo pelo melhor figurino, e
o segundo tem todo um aspecto reles), feito o balanço ao resultado educacional,
pouco diferem: os amores de Eusébio, pelos antros de perdição (com espanholas
baratas) e os amores incestuosos de Carlos, subvertendo as leis da moral.
Afonso serve de ponto de referência a esta análise, dado que
acompanha a educação do filho e do neto. Pedro e Carlos foram sujeitos a dois
tipos de educação opostos, cujos progressos foram conduzidos e vigiados por
Afonso (e cujas consequências também ele sofreu). Contudo, Afonso atribui a si
as culpas do “falhanço” na educação de Pedro e procura “corrigir o erro”,
ministrando outro tipo de educação ao neto. A educação de Carlos não só lhe
alivia o sofrimento, como o faz reviver, transformando-o num “patriarca feliz”
(ver p. 56).
Apesar dos benefícios, a educação de Carlos suscita várias
opiniões (Cf. O padre Custódio e o Vilaça, que parece pesar os prós e os
contras). Aquela educação mostrou a sua vertente mais fraca: a falta da
componente religiosa.
A figura modelar de Afonso jamais é posta em causa,
permanecendo à margem de quaisquer acusações. Através da educação, Afonso tudo
fez para evitar que a desgraça do filho se repetisse no neto, mas não o
conseguiu. Contudo, Afonso não falha: antes morre com dignidade, vítima da
incompatibilidade dos valores que representa com a realidade imoral que se lhe
sobrepõe: a desgraça de Carlos (Cf. p. 646)
A marca pedagógica que opõe dois conceitos educativos
impõe-se neste capítulo, definindo à partida o jogo de forças que estrutura a
acção central, tanto ao nível da crónica de costumes em que a educação “à
portuguesa” é responsável pela degradação social nos seus valores culturais
e morais, como da própria intriga, cujo protagonista uma educação “à inglesa”
distingue nesses mesmos valores. Explora ainda uma visão negativa de certa
elite social provinciana, ancorada em princípios de religiosidade e preconceito
retrógrados. Por outro lado funciona, ao nível de intriga central, como
elemento de ironia trágica de um destino ameaçador, pela morte aparente da
filha de Pedro Maia e de Maria Monforte, o que nos remete para Édipo, cuja
morte fora ordenada por seus pais Jocasta e Laio para evitarem o destino que
lhes estava predito e a qual, cumprido o destino, se verificara não ter sido
efectuada.
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