07/01/2010

CATEGORIAS DA NARRATIVA



CATEGORIAS DA NARRATIVA 
A narrativa, como qualquer outro texto literário, obedece ao esquema apresentado atrás: pressupõe sempre a existência de um emissor (autor) e de receptores (leitores), enquanto o texto narrativo é a mensagem.
Mas a narração é também ela um acto comunicativo. Encontramos aí um emissor (designado narrador), receptores (os narratários), uma mensagem (o discurso narrativo que recria a história). Essa história recriada pelo discurso do narrador contempla uma acção, envolvendo personagens e decorrendo em certos espaços e ao longo de um certo período de tempo. Narrador, narratário, acção, personagens, espaço e tempo são as chamadas categorias da narrativa.
Portanto, no género narrativo encontramos de facto dois actos comunicativos, estando um encaixado no outro. É o que se pretende mostrar com o seguinte esquema:
Autor
-->
Narrativa
Narrador
> 
Discurso
> 
Narratário
-->
Leitor
Analisemos mais pormenorizadamente cada uma dessas categorias.
Narrador
É a entidade responsável pelo discurso narrativo, através do qual uma "história" é contada. O narrador nunca se identifica com o autor: este é um ser real, enquanto aquele é um ser de ficção, uma "personagem de papel" que só existe na narrativa. Pode ser exterior à "história" que narra ou identificar-se com uma das personagens (presença) e só pode contar aquilo de que teve conhecimento (ciência).
Presença
NARRADOR PARTICIPANTE
Autodiegético
O narrador identifica-se com a personagem principal. A narração é feita na 1ª pessoa.
Homodiegético
O narrador identifica-se com uma personagem secundária. A narração é feita na 1ª pessoa.
NARRADOR NÃO PARTICIPANTE
Heterodiegético
O narrador é totalmente alheio aos acontecimentos que narra. A narração é feita na 3ª pessoa.
Ciência (ponto de vista)
Focalização omnisciente
O narrador revela um conhecimento absoluto, quer dos acontecimentos, quer das motivações. É capaz de penetrar no íntimo das personagens, revelando os seus pensamentos e as suas emoções.
Focalização externa
O narrador é um mero observador, exterior aos acontecimentos. Narra aquilo que pode apreender através dos sentidos: descreve os espaços, narra os acontecimentos, mas não penetra no interior das personagens.
Focalização interna
Este tipo de focalização distingue-se da "focalização externa, porque o narrador adopta o ponto de vista de uma personagem, narrando os acontecimentos tal como eles foram vistos por essa personagem.
Narratário
Enquanto a existência do narrador é evidente, a do narratário é menos visível. É que o narrador revela sempre a sua presença, através do discurso que elabora (se existe uma narração, ela é da responsabilidade de alguém), enquanto o narratário pode ser explicitamente identificado pelo narrador, ou, o que é mais frequente, ter apenas uma existência implícita. Normalmente, não encontramos ao longo do discurso do narrador nenhuma referência ao destinatário do discurso (narratário), o que leva a que a sua existência seja frequentemente ignorada. Mas na realidade existe sempre um narratário, cuja existência é exigida pela própria existència do narrador, já que quem narra narra para alguém. O narratário nunca se confunde com o leitor/ouvinte.
Acção
Por acção, entendemos o conjunto de acontecimentos que se desenrolam em determinados espaços e ao longo de um período de tempo mais ou menos extenso.
Acção principal – É constituída pelo conjunto das sequências narrativas que assumem maior relevo.

Acção secundária – É constituída por sequências narrativas consideradas marginais, relativamente à acção principal, embora geralmente se articulem com ela. Permitem caracterizar melhor os contextos sociais, culturais, ideológicos em que a acção se insere.
Sendo a acção um conjunto de sequências narrativas, existem vários possibilidades de articulação dessas sequências.
Encadeamento – As sequências sucedem-se segundo a ordem cronológica dos acontecimentos:
S1
-->
S2
-->
S3
-->
S4
-->
Sn
Encaixe – Uma acção é introduzida no meio de outra, cuja narração é interrompida, para ser retomada mais tarde:
A
-->
B
-->
A
Alternância – Duas ou mais acções vão sendo narradas alternadamente:
A
-->
B
-->
A
-->
B
-->
A
Personagens
As personagens suportam a acção, visto que é através delas que a acção se concretiza. Elas vão adquirindo "forma" à medida que a narração evolui, num processo designado por caracterização.
Caracterização directa – Os traços físicos e/ou psicológicos da personagem são fornecidos explicitamente, quer pela própria personagem (autocaracterização), quer pelo narrador ou por outras personagens (heterocaracterização).
Caracterização indirecta – Os traços característicos da personagem são deduzidos a partir das suas atitudes e comportamentos. É observando as personagens em acção que o leitor constrói o seu retrato físico e psicológico.
Relevo
Personagem principal
(protagonista)

Assume um papel central no desenrolar da acção e por isso ocupa maior espaço textual.
Personagem secundária
Participa na acção, sem no entanto desempenhar um papel decisivo.
Figurante
Não tem qualquer participação no desenrolar da acção, cabendo-lhe apenas ajudar a compor um ambiente ou espaço social.
Composição
Personagem redonda
(modelada)

É dinâmica; possui densidade psicológica, vida interior, e por isso surpreende o leitor pelo seu comportamento.
Personagem plana
(desenhada)

É estática; caracteriza-se por possuir um conjunto limitado de traços que se mantêm inalterados ao longo da narração. Frequentemente assume a forma de personagem-tipo, na medida em que representa determinado grupo social ou profissional.
Personagem colectiva
Representa um conjunto de indivíduos, que age como se fosse movido por uma vontade única.
Funções (estrutura actancial)
destinador
4
objecto
4
destinatário


5


adjuvante
4
sujeito
3
oponente

Destinador
Entidade ou força superior que permite (ou não) ao sujeito alcançar o objecto.
Destinatário
Personagem ou entidade sobre quem recaem os benefícios ou malefícios da decisão do destinador.
Sujeito
Personagem ou entidade que procura alcançar determinado objecto.
Objecto
Personagem, entidade ou aquilo que o sujeito procura alcançar.
Adjuvante
Personagem ou entidade que ajuda o sujeito a alcançar o objecto.
Oponente
Personagem ou entidade que dificulta a obtenção do objecto por parte do sujeito.

Espaço
Espaço físico
É o espaço real, exterior ou interior, onde as personagens se movem.
Espaço social
Designa o ambiente social em que as personagens se integram. A caracterização deste espaço é feita principalmente pelo recurso aos figurantes.
Espaço psicológico
É o espaço interior da personagem, o conjunto das suas vivências, emoções e pensamentos.

Tempo
Tempo da história
(cronológico)

Aquele ao longo do qual decorrem os acontecimentos narrados.
Tempo do discurso
Resulta do modo como o narrador trata o tempo da história. O narrador pode respeitar a ordem cronológica ou alterá-la, recuando no tempo (analepse) ou antecipando acontecimentos posteriores (prolepse). Pode ainda narrar ao ritmo dos acontecimentos, recorrendo ao diálogo (isocronia), fazer uma narração abreviada (resumo ousumário), ou até omitir alguns acontecimentos (elipse).
Tempo psicológico
É de natureza subjectiva; designa o modo como a personagem sente o fluir do tempo.

1 comentário:

  1. Amei o blog, espero que nele tambèm haja uma ficha de soluçâo

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