Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
(…)
Fernando Pessoa, Páginas de Autognose, 1915
ALBERTO CAEIRO
Mestre do ortónimo e dos heterónimos
• Vê a realidade de forma objectiva e natural.
• Aceita a realidade tal como é, de forma tranquila; vê um mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim; existir é um facto maravilhoso.
• Recusa o pensamento metafísico (“pensar é estar doente dos olhos”), o misticismo e o sentimentalismo social e individual.
• Poeta da Natureza.
• Personifica o sonho da reconciliação do Universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza.
• Simples “guardador de rebanhos”.
• Inexistência de tempo (unificação do tempo).
• Poeta sensacionista (sensações): especial importância do acto de ver.
• Inocência e constante novidade das coisas.
• Elimina a dor de pensar.
Linguagem e estilo:
• Discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo.
• Pouca subordinação e pronominalização.
• Ausência de preocupações estilísticas.
• Vocabulário simples e familiar, em frases predominantemente coordenadas, repetições de expressões longas, uso de paralelismo de construção, de simetrias, de comparações simples.
• Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras: pouca adjectivação.
• Predomínio de substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo ou no gerúndio.
Ricardo Reis
• Faz dos gregos o modelo de sabedoria (visível na aceitação do destino).
• Opõe a moral pagã à cristã, uma vez que considera a primeira uma moral de orientação e de disciplina, enquanto a segunda se impõe como a moral da renúncia e do desapego.
• Segue as filosofias do epicurismo, do estoicismo e do carpe diem.
• Considera que a sabedoria consiste em gozar a vida moderadamente e através do exercício da razão.
• Recusa as grandes emoções e as paixões por considerá-las confinadoras da liberdade.
• É um moralista.
• Tem consciência da dor provocada pela natureza transitória/efémera do homem.
• Receia a velhice e a morte.
Linguagem e estilo
• É clássico ao nível do estilo.
• Utiliza a ode e o versilibrismo.
• Usa hipérbatos, latinismos, metáforas, comparações,
• Prefere o presente, o gerúndio e o imperativo.
Álvaro de Campos
Fases poéticas
• 1ª Fase: Decadentista
Traduz-se por sentimentos de tédio, enfado, náusea, cansaço, abatimento e necessidade de novas sensações.
É o reflexo da falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia.
Um dos poemas mais exemplificativos desta fase é o poema Opiário.
• 2ª Fase: Futurista e sensacionista
Assenta numa poesia repleta de vitalidade, manifestando a predilecção pelo belo feroz que virá a contrariar a concepção aristotélica de belo.
Um dos poemas mais exemplificativos é Ode Triunfal
• 3ª Fase: Intimista
Incapacidade de realização, trazendo de volta o abatimento. O poeta vive rodeado pelo sono e pelo cansaço, revelando desilusão, revolta, inadaptação, devido à incapacidade das realizações.
Um dos poemas mais exemplificativos é Esta velha angústia.
Características
• Predomínio da emoção espontânea e torrencial.
• O elogio da civilização industrial, moderna, da velocidade e das máquinas, da energia e da força, do progresso.
• Um poeta virado para o exterior, que tenta banir o vício de pensar e acolhe todas as sensações.
• A ansiedade e a confusão emocional – angústia existencial.
• O tédio, a náusea, o desencontro com os outros.
• A presença terrível e labiríntica do “eu” de que o poeta se tenta libertar.
• A fragmentação do “eu”, a perda de identidade.
• O sentido do absurdo.
• A excitação da procura, da busca incessante.
Linguagem e estilo
• Verso livre e longo.
• Exclamações, interjeições, enumerações caóticas, anáforas, aliterações, onomatopeias.
• Desordem de ritmos, violência de metáforas – desespero por não poder meter as sensações nas palavras.
Fernando Pessoa é o poeta dos heterónimos; o poeta que se desmultiplica ou despersonaliza na figura de inúmeros heterónimos e semi-heterónimos, dando forma por esta via à amplitude e à complexidade dos seus pensamentos, conhecimentos e percepções da vida e do mundo; ao dar vida às múltiplas vozes que comporta dentro de si, o poeta pode percepcionar e expressar as diferentes formas do universo, das coisas e do homem. (…)
In Universidade Fernando Pessoa
Fernando Pessoa é o poeta dos heterónimos e
(…) Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até flor, eu sinto-me vários seres. (…)
e do mundo; ao da…espelhos fantásticos qu
Fernando Pessoa, Páginas de Autognose, 1915
• e torcem
A busca incessante do “eu” foi, igualmente, uma das características de outro grande poeta da geração de Orpheu
Comente o seguinte poema de Mário de Sá-Carneiro, musicado por Adriana Calcanhoto
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.
O Outro,
O 1914
O Outro Mário de Sá-Carneiro, 1914
• O Outro, Mário, 1914O Outro, Mário de, 1914
• Neste brevíssimo poema, musicado por Adriana Neste brevíssimo poema, musicado por Adriana o poeta conseguiu condensar a sua angústia: "de ser nem um nem outro, mas algo que fica entre os dois",
• Composto por uma única quadra caracterizada por irregularidade métrica, esta quadra representa um reflexo do estado psíquico do poeta, a sua insatisfação ("pilar da ponte de tédio") por não conseguir” real ("sou qualquer coisa de intermédio ") encontramos um eu representa um reflexo do estado psíquico do poeta, a sua insatisfação ("pilar da ponte de tédio") por não conseguir estabelecer o seu “eu” real ("sou qualquer coisa de intermédio ") ultrapassar.
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