GRUPO I |
Lê com atenção o texto que se segue:
Quando a Primavera chegou, vestida de luz, de cores e de alegria, olorosa de perfumes sutis, desabrochando as flores e vestindo as árvores de roupagens verdes, o Gato Malhado estirou os braços e abriu os olhos pardos, olhos feios e maus. Feios e maus, na opinião geral. Aliás, diziam que não apenas os olhos do Gato Malhado reflectiam maldade, e sim, todo o corpanzil forte e ágil, de riscas amarelas e negras. Tratava-se de um gato de meia-idade, já distante da primeira juventude, quando amara correr por entre as árvores, vagabundear nos telhados, miando à lua cheia canções de amor, certamente picarescas e debochadas. Ninguém podia imaginá-lo entoando canções românticas, sentimentais.
Naquelas redondezas não existia criatura mais egoísta e solitária. Não mantinha relações de amizade com os vizinhos e quase nunca respondia aos raros cumprimentos que, por medo e não por gentileza alguns passantes lhe dirigiam. Resmungava de mau humor e voltava a fechar os olhos como se lhe desagradasse todo o espectáculo em redor.
Era, no entanto, um belo espectáculo, a vida em torno, agitada ou mansa. Botões nasciam perfumados e desabrochavam em flores radiosas, pássaros voavam entre trinados alegres (...)
Do Gato Malhado ninguém se aproximava. As flores fechavam-se se ele vinha em sua direcção: dizem que certa vez derrubara, com uma patada, um tímido lírio branco pelo qual se haviam enamorado todas as rosas. Não apresentavam provas mas quem punha em dúvida a ruindade do gatarraz? Os pássaros ganhavam altura ao voar nas imediações do esconso onde ele dormia. Murmuravam inclusive ter sido o Gato Malhado o malvado que roubara o pequeno Sabiá, do seu ninho de ramos. (…) Provas não existiam, mas que outro teria sido? Bastava olhar a cara do bichano para localizar o assassino. Bicho feio aquele. (…)
Assim vivia ele quando a Primavera entrou pelo parque adentro, num espalhafato de cores, de aromas de melodias. Cores alegres, aromas de entontecer, sonoras melodias. (…)
I A Andorinha Sinhá, além de bela, era um pouco louca. Louquinha, fica-lhe melhor. Apesar de ainda frequentar a escola dos pássaros – onde o Papagaio ditava a cátedra de religião – tão jovem que os respeitáveis pais não a deixavam sair à noite sozinha com os seus admiradores, mas já era metida a independente, orgulhando-se de manter boas relações com toda a gente do parque. Amiga das flores e das árvores, dos patos e das galinhas, dos cães e das pedras, dos pombos e do lago. Com todos ela conversava, um arzinho suficiente, sem se dar conta das paixões que ia espalhando ao passar. (…)
Apesar de todas essas relações e admirações, uma sombra anuviava a vida da Andorinha Sinhá, razão de ser deste atrasado capítulo inicial, pois a sombra era exactamente o Gato Malhado. Ou melhor: o fato dela nunca ter conseguido conversar com o Gato. Aquele sujeito caladão, orgulhoso e metido a besta, bulia-lhe com os nervos. Habituara-se a vir espiá-lo quando ele dormia ou esquentava sol sobre a grama. Escondida no ramo de uma árvore, mirava-o durante horas perdidas, cismando nas razões por que o feioso não mantinha relações com ninguém. Ouvia falar mal dele mas fitava o seu nariz róseo, de grandes bigodes, e – ninguém sabe por que – duvidava da veracidade das histórias. Assim são as andorinhas, o que se pode fazer? Não há forma de fazê-las compreender a verdade mais rudimentar, a mais provada e conhecida, se elas se metem a duvidar. São cabeçudas e se deixam guiar pelo coração.
O Gato Malhado era a sombra na vida clara e tranquila da Andorinha Sinhá. Por vezes estava cantando uma das lindas canções que aprendera com o Rouxinol, e, de súbito, parava porque via (às vezes adivinhava) o grande corpo do Gato que passava em caminho do seu canto predilecto. Ia então pelos ares, seguindo-o devagar e, em certa tarde, divertiu-se muito a atirar-lhe gravetos secos sobre o dorso. O Gato dormia, ela estava bem escondida entre as folhas da jaqueira, rindo a cada graveto que acertava nas costas do Gato, levando o preguiçoso a abrir um olho e mirar em torno. Mas logo o cerrava, pensando tratar-se de alguma brincadeira idiota do Vento.
JORGE AMADO, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor
Depois de leres atentamente o excerto de “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, responde com clareza e correcção às questões que te são colocadas.
- A partir das informações que o texto te fornece, é possível caracterizar as personagens.
1.1 Caracteriza-as no aspecto físico.
1.2 Indica, agora, as suas características psicológicas.
1.3 Identifica o sentimento que se começa a esboçar neste excerto e que irá acabar por nascer entre as duas personagens.
- Faz o levantamento das histórias contadas acerca do passado do Gato Malhado e que lhe conferiram a fama de “assassino”.
2.1 Poderemos acreditar totalmente na veracidade dessas histórias? Porquê?
2.2 Atenta nas seguintes expressões: “gatarraz”; “cara do bichano”; “Bicho feio aquele” (2º parágrafo). Terão as características físicas do Gato Malhado e o seu modo de vida influenciado a produção dessas histórias? Como?
- O espaço em que decorre a acção dá indícios da estação primaveril. Justifica a tua resposta com expressões do texto.
3.1 Diz qual o recurso estilístico mais utilizado nesta apresentação.
4. Atenta na seguinte passagem: “Assim são as andorinhas, o que se pode fazer? Não há forma de fazê-las compreender a verdade mais rudimentar, a mais provada e conhecida, se elas se metem a duvidar. São cabeçudas e se deixam guiar pelo coração.”
4.1 Classifica o narrador quanto à posição, justificando por palavras tuas.
5. Assinala com X, como verdadeira (V) ou falsa (F), cada uma das afirmações, de acordo com a obra O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá de Jorge Amado.
AFIRMAÇÕES | V | F |
1. Jorge Amado escreveu “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” em Londres. | ||
2. As ilustrações de Carybé fizeram com que o escritor publicasse a obra. | ||
3. A história começa com a expressão “Era uma vez…”. | ||
4. No Gato Malhado... conta-se o amor impossível entre um gato e uma ave, inimigos por natureza. | ||
5. O espaço físico da história é um jardim zoológico. | ||
6. A Manhã é uma funcionária madrugadora e trabalhadora. | ||
7. O Gato Malhado foi acusado, injustamente, de vários crimes | ||
8. A palavra pilhéria no português-padrão do Brasil significa piada. | ||
9. O Vento contou à Manhã a história de amor. | ||
10. O primeiro encontro entre o Gato e a Andorinha aconteceu na estação do Verão. | ||
11. Durante a Primavera, o Gato e a Andorinha passearam-se pelo parque. | ||
12. Na estação do Verão, o Gato pediu a Andorinha subitamente em casamento. | ||
13. Os protagonistas deste conto são três. | ||
14. A Vaca Mocha tinha uma grande estima pelo Gato Malhado. | ||
15. A Vaca Mocha falava espanhol e português. | ||
16. O Gato Malhado e a Andorinha passeiam juntos enquanto as outras personagens condenam o amor impossível. | ||
17. A narração identifica-se porque os verbos estão no pretérito imperfeito. |
GRUPO II |
1. Assinala com X a resposta correcta.
1.1 “A Andorinha Sinhá, além de bela, era um pouco louca”.
Nesta frase, a expressão destacada desempenha a função de:
a ) atributo _____
b) complemento circunstancial de modo _____
c) nome predicativo do sujeito _____
1.2 Na frase (…)“Certa vez derrubara, com uma patada, um tímido lírio branco (…)”, estão presentes as seguintes funções sintácticas:
a) C.C. de Tempo + Sujeito Inexistente+ Predicado+ Complemento Directo+ Atributo+ C. C. de Modo______
b) Sujeito Subentendido+ Predicado+ C.C. de Modo+ C.C. de Tempo+ Complemento Directo+ Atributo_____
c) C. C. de Lugar+ Sujeito Subentendido+ Predicado+ C.C. de Modo+ Complemento Directo_____
2. Passa para a forma passiva a seguinte frase.
2.1 O Gato Malhado salvou o pássaro de morrer afogado.
3. Classifica morfologicamente as seis palavras sublinhadas no excerto .
4. Reescreve a frase, de forma a alterares a forma verbal para os tempos e modos solicitados:
No ramo de uma árvore, a Andorinha fitava o Gato Malhado.
a) Pretérito Perfeito Composto do Indicativo : No ramo…….
b) Condicional Composto : No ramo teria fitado….
c) Presente do Conjuntivo ( Começa a frase por “Espero que”) Espero que ……
d) Pretérito Mais-que perfeito do Indicativo : No ramo ……
e) Pretérito Imperfeito do Conjuntivo (Começa a frase por “Se”) No ramo ….
f) Futuro do Conjuntivo (Começa a frase por “Quando” ) Quando …
g) Futuro Composto do Conjuntivo (Começa a frase por “Quando”) Quando ….
5. Assinala com X, como verdadeira (V) ou falsa (F), cada uma das afirmações, recordando tudo o que aprendeste sobre as relações semânticas das palavras.
AFIRMAÇÕES | V | F |
a) Antónimo significa um vocábulo com sentido oposto ao de outro, opondo-se no seu significado. | ||
b) As palavras hiperónimas designam os elementos contidos em determinada espécie. | ||
c) Por polissemia entende-se os vários significados que se podem atribuir a uma mesma palavra. | ||
d) A conotação é o significado primeiro (objectivo) de uma palavra, enquanto que a denotação é o segundo sentido (subjectivo) atribuído a uma palavra. | ||
e) A palavra «pôr» é acentuada para não se confundir com a sua homófona, a preposição «por». | ||
f) As palavras mobiliário e vertebrados podem ser hiperónimas. | ||
g) As palavras aprender/apreender; descrição/discrição; emigrante/imigrante, eminente/iminente e cumprimento/comprimento são homófonas. |
GRUPO III |
Dos temas apresentados, escolhe apenas um.
TEMA A:
A história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá começa com a seguinte trova popular:
"O mundo só vai prestar Para nele se viver No dia em que a gente ver Um gato maltês casar Com uma alegre andorinha Saindo os dois a voar O noivo e a sua noivinha Dom Gato e dona Andorinha." (Trova e filosofia de Estevão da Escuna, poeta popular) |
Na Dedicatória, o autor designa a história como uma "fábula". Ora a fábula é um texto narrativo cujas personagens são geralmente animais e em que existe a intenção de moralizar.
Elabora um comentário com cerca de sessenta palavras sobre a(s) mensagem(ns) que, em tua opinião, o autor pretende transmitir ao mundo dos homens através de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma História de Amor. |
TEMA B : A Andorinha enviou, pelo Pombo-Correio, uma carta de despedida ao Gato, mas os encontros entre os dois continuaram. Porém, o momento da separação definitiva chegou e a Andorinha quis dizer ao Gato tudo o que não chegara a dizer-lhe. Escreveu-lhe. |
Redige, então, uma carta enviada pela Andorinha Sinhá ao Gato Malhado pouco antes de se casar. Uma carta simples, mas emotiva; uma carta em que fala do Gato, mas sobretudo de si própria, do seu amor, dos seus sonhos, das suas mágoas, do seu futuro... (podes escrever em prosa ou verso) |
- o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá é FIXE ;)
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